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quinta-feira, fevereiro 16, 2006

O Cigano Amolador de Facas


No organizado caos urbano que são as ruas de Barcelona vi hoje um cigano amolador de facas deambulando pé ante pé sentado na sua vespa. Fiquei incrédulo. Pareceu-me recuar vinte anos e estar novamente nas sempre presentes ruas de Mafra, onde diariamente também via um. Fazia sol e eu caminhava a passos ponderados, saboreando o envolvimento. O cigano, um terno homem num corpo de velho, assobiava as músicas do costume. Soprava feliz, demonstrando gosto por aquilo que fazia e ensinando a crença nos seus princípios e estilo de vida. A todos pareceu despropositado e pouca atenção lhe foi concedida naquele espaço de tempo em que me aconcheguei a observá-lo. Mais tarde – depois de ouvir novamente o seu timbre enquanto estava sentado na minha sala – voltei a cruzar-me com ele. Estava a trabalhar uma faca de um restaurante chinês. Dentro de si, com toda a certeza, esbracejava gritando que o seu lavor também era arte e que, tal como tudo o que fazemos com o sabor do nosso próprio sangue, igualmente vale a pena. Aquela faca ficou afiada como nenhuma outra.

1 Comments:

Blogger Rumbo said...

Provavelmente, o mesmo amolador que servia as gentes de Mafra com sua arte, servia também as de minha terra. Eu, ainda petiz, ouvia a flauta ao longe e a minha avó dando-me as tesouras da costura para a mão dizia: «Vai ao senhor amolador e pede-lhe para amolar estas tesouras, leva também estas moedas e paga-lhe. Mas vai com cuidado e vira os bicos das tesouras para baixo.»
As faces do homem ficaram junto das minhas coisas de petiz, mas a máquina trouxe-a comigo: Uma engenhoca ligada ao aro da roda traseira por uma correia. O homem pedalava, as pedras rolavam e com uma mão amolava cuidadosamente as tesouras enquanto que com a outra segurava a flauta de um lado para o outro anunciando a sua vinda para descanso das gentes da aldeia cujas ferramentas nunca foram descartáveis, pelo contrário, eram extenções dos seus próprios corpos.

1:34 da tarde  

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