O eco de um Sermão
Estava frio, as folhas já caíram -as que tinham que cair- e as ervas, as poucas ervas que permanecem, agora tão saturadas das geadas são amarelas e caídas, sendo o seu amanhã ou um enterro lento ao passo dos sóis e das luas, ou um regresso difícil, feito de persistência e vontade, à côr e à luz mais alta.

A água dessa ribeira corre tímida, calma, na sombra do meio-dia e parece não ter fim o seu sermão, entretendo os peixes, e os peixes entretendo o sermão, e as avencas, essas que purificam a água, assim sentenciam os mais velhos, e os pássaros e as árvores todas. Todos ouvem o monólogo. É uma voz que toma conta de quem a quer ouvir, e todos querem, e de todos ela toma conta. Ora letargia e surdez, ora crença cega -outros diriam, natural- nessa temática dos movimentos de vida, é uma escolha.
São horas de o sol se pôr, mas hoje tarda em fazê-lo. É contra a lei natural das coisas não o ter feito já. Reflecte-se isso enquanto a água corre, e no regresso a casa com o sol bem lá no alto e de lanterna apontada para o chão, que os carreiros guardam altas pedras e fundos buracos e largos regos que a chuva cava às vezes.
1 Comments:
Leio e dá-me vontade de me sentar. Tirar o relógio, rasgar o calendário, queimar a agenda, desligar o telemóvel.
Leio e dá-me vontade de sentir e ser sentido.
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